Dói quando eu ponho uma playlist de Enya pra tocar e vem aquela música que descreve o que eu sinto agora.
Dói quando eu abro a galeria e me bato com uma foto sua, porque não sei se, algum dia, haverá outra foto sua.
Dói quando olho pra Lira e a vejo tristinha, sozinha na cama, porque eu sei que ela sente falta de te dar dezenas de banhos diários.
Dói quando eu vejo Godofredo embaixo da mesa, olhando pro nada, porque eu sei que ele está sentindo falta de brincar com você ali.
Dói quando eu abro os olhos, pela manhã, e não vejo você. Seria o primeiro a me cumprimentar com suas cabeçadas descuidadas.
Dói quando eu olho para os nichos, porque sei que você adoraria brincar neles, e porque sei que você se foi da minha proteção por causa da instalação deles.
Dói quando me perguntam se eu já te encontrei, porque eu tenho que dizer que não, eu não encontrei você. E porque eu tenho que segurar o bolo na garganta para não chorar ali, mesmo.
Dói quando eu ouço um gato miando na rua e corro pra varanda para ver se é você, mesmo sabendo que vai ser a mesma gatinha de sempre.
Dói quando eu vejo um gato preto e branco e praticamente me forço a não enxergar você nele. "Mas será que ele realmente tinha aquela mancha que eu não vejo agora?"
Dói quando eu me lembro que nem pude tirar uma foto de você, Meia Noite e Lira juntos na nova casa, porque ele ainda não está aqui.
Dói quando eu lembro de quando você adoeceu e veio pra cá, e que foi ali que eu percebi o quanto te amava.
Dói toda vez que eu chego ou saio de casa, porque eu tenho que encarar aquela grade e aquela porta que gritam pra mim "POR QUE VOCÊ NÃO SIMPLESMENTE NOS DEIXOU FECHADAS?"
Dói quando eu vejo Shiva tranquila, sentada no corredor, porque eu lembro do quanto vocês costumavam brigar pela passagem.
Dói muito, filho.
Dói tanto que arde minha garganta, pesa no meu peito. Dificulta a respiração.
Dói porque, por mais que eu esteja tentando seguir, por mais que eu esteja fazendo o que preciso e cuidando dos seus irmãos, por mais que eu consiga sorrir e ter dias bons, essa culpa sempre vai estar à espreita. A saudade sempre vai me invadir, vez ou outra, e ela nunca vai vir em paz.
Dói porque eu sonhei tantas vezes com você e a cada vez achava que aquele sonho seria, finalmente, o sinal de que te encontraria, como sempre fora antes.
Mas não eram.
Dói porque eu não pude me despedir, porque você não simplesmente morreu, porque eu sequer sei se você está vivo ou morto.
Dói porque, se estiver vivo, não sei se está bem ou sofrendo, o que tem passado, se está encontrando comida, se foi maltratado.
Dói porque, se estiver morto, não sei o que passou, o quanto sofreu.
Dói porque eu não sei o quanto se sentiu ou se sente sozinho.
Dói porque eu sempre prometi a todos vocês que nada de mal aconteceria enquanto eu estivesse aqui, e eu não pude te proteger.
Dói porque eu te amo tanto, mas você não está aqui e eu não sei se estará, algum dia.
"Onde está você neste momento?
Somente nos meus sonhos.
Você está perdido, mas você está sempre
A um batimento longe de mim.
Eu estou perdida agora sem você.
Eu não sei onde você está.
Eu continuo observando, eu continuo esperando.
Mas o tempo nos mantém distantes.
O inverno se estende diante de mim.Agora você está tão longe.
Na escuridão dos meus sonhos,
A sua luz irá permanecer.
Se eu pudesse estar perto de você.
Se eu pudesse estar onde você está.
Se eu pudesse te alcançar e te tocar
E te trazer de volta para casa.
Existe uma forma de te encontrar?
Existe um sinal que eu deveria conhecer?
Existe alguma estrada que eu deveria seguir
Para te trazer de volta para casa? Para mim?"